quarta-feira, 16 de novembro de 2011

"O que há em mim é sobretudo cansaço"

Arrastados pelo pessimismo, pela incerteza, pelo desconhecido, mergulhamos muitas vezes num profundo cansaço....

Ilustrando esse cansaço face à vida e à realidade que se vive (também vivido pelo poeta), aqui vos deixo este belo poema de Álvaro de Campos




O que há em mim é sobretudo cansaço –
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada –
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas –
Essas e o que falta nelas eternamente –;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah! com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

2 comentários:

  1. Bonito poema, no entanto ainda não estou rendido à poesia.
    Continua a colocar, pode ser que me convertas.

    Seria bom colocar mais qualquer imagem com o poema.

    Alface

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  2. Podia ser, mas aqui acho que a imagem não valeria por mil palavras...o poema é intenso e as palavras traduzem isso mesmo. Vai ter uma imagem num próxima publicação, prometo!Depois pode construir o poema... um desafio, não acha?

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